terça-feira, 12 de junho de 2012

Entrevista com Shihan Seiji Isobe


O chefe da Organização Sulamericana de Karate Kyokushin, Shihan Seiji Isobe, voltou a ser notícia no universo de artes marciais ao receber o oitavo dan das mãos do diretor mundial do estilo, Kancho Shokei Matsui. A cerimônia aconteceu durante o IV Mundial por Peso, em agosto, no Japão.
 
Agora, o responsável pela vinda do Kyokushin ao Brasil é um dos seis faixas pretas mais graduados do mundo, já que o nono dan é concedido apenas postumamente, e o décimo grau é graduação exclusiva do fundador do estilo, no caso, Mestre Masutatsu Oyama.
 
Na entrevista que concedeu ao site da Matriz, Shihan Isobe falou sobre a emoção de receber o 8º dan e suas perspectivas para o Kyokushin brasileiro.
Joana Matushita

O senhor já esperava a promoção para o 8º dan?
Para mim foi uma surpresa. Imaginava que o oitavo dan pudesse vir em 2011, com a eventual conquista do bicampeonato Mundial de Kyokushin. Não esperava agora.

O que muda?
Em termos práticos, não muda nada. O sentimento é que é diferente. A responsabilidade por manter o nível de 8º dan é grande. No mundo, havia, até então, apenas cinco pessoas com essa graduação: Kancho (Shokei) Matsui, Shihan (Yuzo) Goda, Shihan Bobby Lowe, Shihan Loek (Hollander) e Shihan Peter Cheong. Agora, sou o 8º dan mais jovem depois de Kancho Matsui.

O senhor já formou dois campeões mundiais e, agora, alcançou a graduação máxima do Kyokushin. Ainda tem algum sonho a realizar?
Sempre há sonhos a serem realizados. É como escalar uma montanha ou subir uma escada: você se propõe a chegar até uma certa altura, achando que se dará por satisfeito, mas quando você chega lá, quer ir mais alto. Um dos meus sonhos é conquistar o bicampeonato mundial com o atleta Ewerton Teixeira. Esse feito já foi alcançado pelo Japão, com Makoto Nakamura, que venceu o segundo e o terceiro mundiais. Quero, então, ir além e fazer como disse o mestre (Masutatsu) Oyama: o verdadeiro campeão vence três vezes seguidas.

O tricampeonato também viria com Ewerton Teixeira?
Não necessariamente, já que o Mundial Aberto acontece a cada quatro anos. Vou me esforçar até conseguir trazer o tricampeonato para o Brasil. De qualquer jeito.
Meu outro grande sonho é construir aqui uma espécie de escola de Karate Kyokushin. A diferença em relação a uma academia seria a existência de um calendário letivo, tal como nas escolas de ensino pedagógico, com período determinado para matrícula, avaliação, etc. O primeiro ano seria usado para graduar o aluno até a faixa verde. No segundo ano, o aluno pegaria a faixa marrom e, no terceiro, a preta. No quarto ano, o aluno poderia escolher entre seguir a carreira de atleta, instrutor, lutador profissional, administrador – e abrir uma academia – ou, ainda, seguir como aluno “normal”. O quinto – e último – ano serviria para consolidar a formação do aluno de acordo com a opção escolhida.

Sua promoção de faixa aconteceu durante o Mundial por Peso, em que a equipe brasileira teve um desempenho aquém do esperado. O que houve?
Esta é a vida. O ideal é que tudo aconteça como planejado. No caso do Mundial por Categoria, o ideal era voltarmos do Japão com quatro campeões. Mas a vida não é assim. Temos que reconhecer a derrota e preparar atletas para os próximos campeonatos. Em tudo na vida há o que chamo de “fator alfa”. É algo que não dá para planejar, é imprevisível. Envolve sorte, clima, acidente, cansaço, Deus...

O senhor é admirado e respeitado por toda a Organização, seja como dirigente ou mestre de Kyokushin. O que é necessário para ser um bom dirigente?
O dirigente deve enxergar as diferenças que existem entre as pessoas, sejam atletas ou membros oficiais da Organização. Por exemplo, Francisco Filho foi campeão mundial de Kyokushin seguindo um caminho. Tentar repetir o feito com Glaube Feitosa ou Ewerton Teixeira usando o mesmo treinamento seria um erro. Cada um é diferente. Na Organização é a mesma coisa. O dirigente tem que analisar o perfil de cada um. Há aqueles de quem você gosta e aqueles de quem você não gosta. Tem gente de bom caráter e gente de mau caráter, boa e ruim.

E para ser um bom mestre?
Ser bom é consequência. O verdadeiro mestre deve sempre dar bom exemplo. É preciso conquistar o respeito dos alunos, ter empatia com eles. Carisma também é necessário. Autointitular-se “bom mestre” não adianta nada. As pessoas é que têm que reconhecer isso.

Qual dos dois é mais difícil?
Ser mestre é mais difícil. Tem que mostrar técnica, manter o preparo físico e mental e nunca deixar de praticar. E praticar sempre mais que os outros. Caso contrário, não será mais um bom mestre. O trabalho de dirigente, por sua vez, é mais analítico, envolve pesquisa, planejamento...

Aos 61 anos de idade, o senhor ainda ministra aulas e acompanha os alunos durante os exercícios. De onde vem tanta disposição?
Primeiro: eu gosto de treinar e sei quais são as minhas responsabilidades. Tenho que dar bom exemplo até o último dia da minha vida. Hoje, aos 61 anos, ainda estou novo. No karate, quanto mais se treina, mais se aprende. O kata, por exemplo, foi criado há 70, 80 anos. Eu aprendi os golpes sem receber nenhuma explicação. Hoje, após 46 anos de treino, entendo o porquê de cada movimento. As respostas aparecem com o tempo. Isso aconteceu comigo em relação ao kata, ao kihon, ao idogueiko... Por isso, não posso parar. Sempre há coisas novas a serem descobertas.

O que o senhor espera do Kyokushin brasileiro no futuro?
O homem precisa de água para viver. Quero que o Karate Kyokushin seja como água para o brasileiro: indispensável para a vida. 


Imagens



Shihan Isobe recebe 8º dan de
Kancho Matsui


Shihan Isobe é o sexto a
receber a graduação


Durante seminário em NY


Como juiz central, na final do
Mundial 2007


Entre os campeões mundiais
Ewerton Teixeira e Francisco Filho


Fonte:

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